Assim que assumi a direção, as primeiras gotas começaram a cair do céu. Olho para cima e vejo que não se trata de nuvem passageira. À frente (e acima) do carro, tudo está azul-escuro. O tempo fechou, e eu ao volante de um superesportivo sem capota! Nada menos que o Bugatti Veyron Grand Sport, o conversível mais caro e mais rápido do mundo. Só que o teto rígido dele estava bem longe dali. Ao meu lado, o piloto oficial da Bugatti, Pierre-Henri Raphanael, justifica: “Nesse carro, a avaliação é sempre feita sem a capota”. Faz sentido, mas o que fazer, agora que a chuva começa a se intensificar? “Continue andando que as gotas passam por cima do carro e não vão molhar o interior.” Era tudo o que eu precisava (e queria) ouvir.
De repente, o tempo fechou. Sem problema: basta acelerar que a água passa por cima
Dirigir o Veyron eleva o ser humano a outra dimensão. A uma acelerada mais vigorosa, o corpo cola no encosto do banco de uma forma como eu nunca havia sentido antes. O deslocamento rapidíssimo para frente é acompanhado pelo forte ruído de quatro turbinas soprando bem atrás dos ouvidos. “É como acelerar um jato”, compara Raphanael, o cara que bateu o recorde com o Veyron Super Sport aí da matéria ao lado. A sensação é a mesma. ]
Faço um rápido inventário nos carros mais rápidos e potentes que já dirigi e constato que os melhores (Ford GT, Porsche 911 Turbo, Audi RS6) têm a metade da potência desse Bugatti. São 1.001 cavalos e 127,5 kgfm de torque. Nenhuma Ferrari chega perto desses números: em relação à Enzo (660 cv, 67 kgfm), o Veyron é 50% mais potente e tem o dobro do torque. Para comparar com Ferrari, em aceleração, só se for a da Fórmula 1.
Estou no comando de um carro de R$ 7,7 milhões. É de longe o automóvel mais caro que já dirigi. Chega a 100 km/h em 2,5 segundos, a 200 km/h em 7,3 s e a 300 km/h em 16,7 s. Apesar disso, com pouca pressão no acelerador, o Bugatti (quem diria?) é dócil e pode ser conduzido com suavidade. Só não digo que dá para ir com ele ao mercado porque o porta-malas é muito pequeno. Mas o Bugatti não é aquele tipo de superesportivo que exige “braço” o tempo todo. De acordo com Raphanael, essa docilidade foi proposital: o projeto previa que o Veyron teria de ser um veículo amigável, fácil de ser conduzido. “Quem compra esse carro não é piloto, até porque, salvo uns dez nomes, pilotos não ganham tanto dinheiro assim”, afirma. Segundo ele, o comprador típico é empresário, que passa a maior parte do tempo trabalhando, e não é necessariamente um exímio motorista.
O motor fica sempre à mostra. E, se o motorista quiser, a presença ta´mbém pode ser auditiva: basta acelerar
Por isso, a suspensão é surpreendentemente macia. Absorveu bem as imperfeições do asfalto tanto na Castelo Branco como em uma estrada secundária na cidade de Porto Feliz, interior de São Paulo. Para passar em lombada, por exemplo, basta reduzir bem a velocidade. Não precisa nem passar na diagonal, porque o Veyronnão raspa embaixo.
Nesse ritmo, o motor 8.0 de 16 cilindros e quatro turbos vai ronronando com preguiça atrás dos bancos. Mas você acaba com essa calmaria na hora que quiser. Seguindo as instruções de Raphanael (e aproveitando que a pista ainda não estava muito molhada), dou um toque na borboleta esquerda do volante e o carro entende que eu não estou em Porto Feliz a passeio.
Da sétima marcha, o câmbio de dupla embreagem fornecido pela Ricardo (empresa que trabalha até para equipes de F1) cai para segunda, sem escalas. Aperto o pé até o fundo e o Veyron parte como um jato. Colo as costas no banco de couro, e o fotógrafo, que seguia no carro de trás, desaparece no retrovisor.
O câmbio de sete marchas tem dupla embreagem. E a tecla LC ( launch control) faz qualquer motorista arrancar co
Jato para acelerar, jato para frear. Quando se pisa firme no freio acima de 200 km/h, o spoiler assume inclinação de 55 graus, como os flaps de um avião na descida. Com a barreira aerodinâmica, o Cx sobe de 0,39 para 0,68, para auxiliar os discos de carbono-cerâmica.
Dou uma parada rápida no acostamento, porque o pessoal de apoio da Bugatti veio ao nosso encontro. Em segundos, eles instalam um guarda-chuva próprio do carro, que se encaixa perfeitamente no teto. É um “quebra-galho” de luxo, que limita a velocidade a 130 km/h. Com ele, e com a chuva, que agora cai com intensidade, dirijo com mais prudência, porque com pneus largos (e como são largos os pneus Michelin do Veyron!) a possibilidade de aquaplanagem aumenta. Mas vou descobrindo outras coisas. Caso do acabamento: o interior de couro marrom é perfeito e combina muito bem com as peças de alumínio e fibra de carbono. A posição ao volante é quase a melhor possível. Seria perfeita se o banco tivesse ajuste de altura, mas a Bugatti precisava manter o centro de gravidade baixo, e isso inclui o motorista. Por isso, minha visibilidade para frente era apenas parcial. Mas isso não é nada. Em que conversível você anda na chuva e não se molha? Dê uma olhada no vídeo abaixo.
Quando se pisa firme, as quatro turbinas entram em ação e você pensa que está decolando em um jato